domingo, setembro 28, 2014


Te fitei, numa provocativa mensagem à razão.
Te projetei, na medida exata do meu desconsolo.


terça-feira, setembro 23, 2014


As palavras que encontrei durante todo minha vida desafiaram a grandiosidade do meu silêncio. Silencio. 


terça-feira, fevereiro 12, 2013

Nem teus santos, nem teus vícios, nem teus gritos me incomodam.
São teus olhos.
Mãe, há entre nós o infinito e nem sei por onde começar.
Sinto-me febril, e um mal estar prediz uma calmaria impossível.
Olho seus olhos, minha mãe, e temo atravessá-los.
Dentro de ti não existe quietude, e talvez um carinho possa machucar-me.
Mas sempre é sobre o amor.
Sobre eu e você, minha mãe.
Eu e você, como num duelo. Até a exaustão.
E tua morte nos teus dedos, como a liberdade.
Tua chaga como uma marca de nascença em mim até o fim.

domingo, agosto 26, 2012

Fora enganada ao certo, inúmeras vezes, pois desde pequena contemplava suas vontades todas atendidas com base na mentira descarada, então se não tivesse o que queria, logo sua ira na sua forma mais primitiva estampava a cara. Aprendera a não ceder, mesmo que isso tornasse tudo uma boba criancice. Não teria o que queria, certamente, não verdadeiramente. Seria ela e seu dissimulado desapego, dizendo não se importar, quando queria as desculpas em seus lábios antes de sentir-se um fracasso em pronunciá-las. “Mundo cão”, ela pensara, consciente da sua postura ofensiva e vitimizadora. Sempre de punhos cerrados contra todos, certificando seu espaço determinado. Sozinha sabia de sua grande parcela de culpa nisso, “mundo cão”, começara a pensar com menos hostilidade. Escolher amaciar os nervos poderia tê-la aliviado em algum “porém”. Mas o tempo passara e ela estava estagnada , declarada pelo mundo cão: culpada.

terça-feira, abril 26, 2011


Quando não estou ao seu lado, estou desencantada, porém envaidecida, e ouço as batidas das mãos frenéticas me chamando. As vezes são ruídos ao pé do ouvido enquanto durmo. Um coro de anjos de pele quente. São os meus condenados, suplicando amor feroz, silencioso. E o maldito ao lado da mesa, com seus olhos vermelhos, sua boca armada, apontando pro nada. Aí está! O que meu coração não deseja, mas meu corpo embala sem medo.



sábado, fevereiro 12, 2011

Eles sabem como dói, e querem machucar-me. Quatro mãos em meu corpo ébrio, amáveis e assassinos, eles cuidam de mim. Beijos suaves, ferozes, quatro mãos em meu corpo despreocupado. Sombras da noite, eles suaram e cuspiram em minha boca. Assassinos, corruptos, crápulas, eles cuidam de mim. Desapegados, me aninhei em um abraço violento. Bubaa, mais um salvador que pedi por sexo e faz amor. Meu Bubaa ferido, meu Bubaa bondoso. Fui tua vestimenta da noite, graciosa noite que me salvaste. Com o silêncio da madrugada a cidade dorme, nós nos rasgamos de vontade. Você despido na penumbra delirante, me carrega e me retoca pura, menina. Beija como beijos de despedida, como imagino ser um beijo de ternura. Com uma multidão de sombras o deixo, e só mais uma vez volto a olhar-te na sombra que você também se tornou. Bubaa da minha casa nunca erguida, dos meus filhos não nascidos, meu Bubaa de amor.

terça-feira, novembro 30, 2010

Não importa onde olhar,
São os olhos da minha invenção,
Feitos para esquecer.
Não importa como consumar,
Não! O final causa náusea e espanta a razão.
Suplico para não apagar-me,
Pois ainda desejo a noite ludibriosa, e minha juventude,
Misteriosa e impulsiva, como um amante.
Grito em silêncio,
Para não parecer ingrata,
Então resgato meus filhos não-nascidos,
Desenterro minha casa nunca erguida,
E me vejo em outros corpos,
Lamentando dores de outras vidas.
Corpos vulneráveis demais,
Revivendo na minha pele seus anseios.
Vejo a menina dos olhos do pai, eu retorno.
Mamãe tem tentado saltar dessa vida,
E tenho assistido seu olhar alheio,
Sua boca deformada, seca.
Eles, os desordeiros, de asas extraordinárias, vistosas.
Todos inimigos, prontos para despedaçar minha vida.
E você dos olhos negros,
Que pulsa em mim como um estigma,
Tem pensado em mim?
Fecho os olhos e não há como agarrar,
Foges assim até em sonho.
Vasculho e bagunço meu interior,
Destruo minha criança,
O forro dos meus segredos.
Lágrimas forçadas tantas vezes,
Lágrimas vermelhas,
Lágrimas no sol,
Lágrimas num sonho,
Nenhuma gota.
Nem para alimentar.
Amaldiçoa-me, lhes suplico.