terça-feira, novembro 30, 2010

Não importa onde olhar,
São os olhos da minha invenção,
Feitos para esquecer.
Não importa como consumar,
Não! O final causa náusea e espanta a razão.
Suplico para não apagar-me,
Pois ainda desejo a noite ludibriosa, e minha juventude,
Misteriosa e impulsiva, como um amante.
Grito em silêncio,
Para não parecer ingrata,
Então resgato meus filhos não-nascidos,
Desenterro minha casa nunca erguida,
E me vejo em outros corpos,
Lamentando dores de outras vidas.
Corpos vulneráveis demais,
Revivendo na minha pele seus anseios.
Vejo a menina dos olhos do pai, eu retorno.
Mamãe tem tentado saltar dessa vida,
E tenho assistido seu olhar alheio,
Sua boca deformada, seca.
Eles, os desordeiros, de asas extraordinárias, vistosas.
Todos inimigos, prontos para despedaçar minha vida.
E você dos olhos negros,
Que pulsa em mim como um estigma,
Tem pensado em mim?
Fecho os olhos e não há como agarrar,
Foges assim até em sonho.
Vasculho e bagunço meu interior,
Destruo minha criança,
O forro dos meus segredos.
Lágrimas forçadas tantas vezes,
Lágrimas vermelhas,
Lágrimas no sol,
Lágrimas num sonho,
Nenhuma gota.
Nem para alimentar.
Amaldiçoa-me, lhes suplico.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Balanços, vinhos e rosas.

Tateia tua mão na minha, que não temos nada a temer,
Oferece tua mão e me guia, querido forasteiro.
De cabelo pretensioso e olhar alucinado,
Pensamentos que parece fugir pra dentro de mim,
Vasculhando meus medos, minhas vontades.
Dos fogos de artifício silenciosos no céu.
Tu, cantarolando pra mim uma miragem,
Nosso quintal de balanços, vinhos e rosas.
Mas estou longe, muito longe desse cenário familiar
E tenho me abrigado em todo o resto.


Vê! Não se fez de desdenhoso, não se fez de atrevido, queixoso. Sua feição perdeu seus melhores traços. Vivera onde resplandecia suas luzes amarelas, e o frio da hora dos mortos, onde tantas vezes profetizou a história de sua Beatrice, em toda parte que se possa imaginar, gritou dando goles de euforia, declarando ser um homem impraticável. Ele sabia que elas escorregariam como manteiga derretida logo no primeiro capítulo. No espelho via um homem esgotado, humilhado. Foi cutivando portas batendo, aplausos imaginários, ruas deixadas para trás e se fez de morto, rindo histericamente da própria vontade.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Sentia falta dos violentos acessos de loucura, incendiando o último coração da noite. Observara seus sonhos virarem cinzas quando o amanhecer se alinhara e sabia que havia muito a dar. Sentia falta do alento de salvação e saudação a quem se aproxima sem receio. Engolira pílulas enviadas por um homem santo, e roubado um sorriso do céu, agradecendo. Em sua cama, ainda exalando o cheiro forte das noites passadas, se observou linda. Seu rosto iluminara o espelho do teto, revelando sua dedicação nas manchas amareladas no lençol da cama. Véus e rosas cairam em seu corpo despido, machucado, e ela não ousaria despertar. Num momento divino o teto virara céu, e a puta da noite roubou mais um sorriso, grata. Todo dia um novo estigma, e um majestoso alvorecer. Tornara-se tão boa, tão cheia de luz e satisfação, que a puta do céu, deleitada, se viu a única.

quarta-feira, agosto 18, 2010


Nossa cobiça destroça qualquer fragilidade que poderia nos asfixiar. Reunidos num templo inebriante, então o dia virá de nos manipular. A noite prepara-se para nos abocanhar. Logo! Desesperadamente ela irá nos presentear um riso histérico. Em volta à fumaça, atrações em olhos felinos, garrafas despedaçadas acalmando espíritos submergidos, imutáveis. O dia irá erguer-se, em breve, e não há nada que possamos fazer. Ocultaremos qualquer descontentamento, para encenarmos novamente, quando a noite chegar, nosso semblante despreocupado.

Camarada Quimera (Chuck Palahniuk)

-Eu perdi minha virgindade pelo ouvido- diz a Camarada Quimera
Ela era tão jovem que ainda acreditava em papai Noel.

A Camarada Quimera esta no palco, com os punhos nos quadris
E os braços dobrados,
Projetando os revestimentos de couro nos cotovelos.
Os coturnos com bico de aço e cadarços estão bem plantados.
As pernas estão cobertas por folgadas calças camufladas,
Amarradas nos tornozelos.
Ela se inclina tanto à frente que seu queixo faz sobre a
Frente do casaco verde-oliva, sobra militar.

No palco em vez de um refletor, um fragmento de filme:
Um documentário com cartazes de protestos e filas de piquetes.
Bocas com formas de megafone
Berram completamente abertas
Só se vêem dentes, nada de lábios
As bocas se abrem tanto que os olhos se fecham com o esforço

A Camarada Quimera diz: – Depois que o juiz concedeu a
Custodia conjunta, minha mãe me disse no meio da noite,
Quando você já adormeceu com a cabeça no travesseiro…

A mãe dela disse: -se um dia seu pai entrar pé ante pé no
Seu quarto, você vem me contar…
Se um dia seu pai tirar a parte debaixo do seu
pijama e apalpar seu corpo…
você vem me contar.

Se ele tirar uma cobra gorda e pesada da barriguilha da calça…
Um cacete quente, pegajoso e fedorento…
E tentar meter na sua boca…
Você vem me contar.

-Em vez de tudo isso, meu pai me levou ao jardim zoológico-
diz a Camarada Quimera.
Ele a levou ao bale. Ele a levou ao treino de futebol
Ele lhe deu um beijo de boa noite.

Com as cores dos grevistas sentados, as formas da
Desobediência civil ainda marchando,
Marchando, marchando,
Sob seu rosto,
Camarada Quimera diz:
-Mas eu passei o resto da vida pronta.

sexta-feira, julho 02, 2010

Olhara fixamente cada ponto que me desconfortasse, como um corvo rondando uma abundância de presas. Dias convertidos em fingidas fugas. Polêmico, força e independência oculta, quem ousasse expor-se a uma maior aproximação sentiriam sua evasão, seu desprezo. Evitara ficar a sós com criatura tão impulsiva, não me surpreendia que falasse tão pouco e dono de uma feição tão graciosa, seria inocentado mesmo que acenasse com a arma do crime em nossas caras. Lindamente apresentado para desgraçar-me. Suplicaria-lhe, definitivamente, transformar tudo no desconhecido. “Não se apresenta insuficiência, não a quem se ama”, e sumira intencionalmente. "Mas meu bem, ninguém ora pela salvação, oramos pelos enfeites".

segunda-feira, abril 26, 2010

"Primeiro, ache alguns amigos para dizer: 'Você está indo bem
Após todo este tempo vocês continuam os mesmos'
Segundo, é o happy hour em um dos dois hotéis
Prepare-se para o jogo: "Você se lembra disso?"
Terceiro, nunca diga o nome dela

Mas Ah! Quem precisa dessa merda sentimental, de qualquer maneira
É preciso mais do que apenas recordações para me fazer chorar
Estou feliz só por sentar numa mesa com os velhos amigos
E ver que um de nós pode contar as maiores mentiras"

(Don Walker}

segunda-feira, abril 05, 2010

Existia Pedro, e os fantasmas. E fulano gritara: "Está ferrado?! Chama Pedro, ele resolve". E tinha as doses, não poderia esquecer seu corpo padecendo, a música alta e a boca seca, aberta. Havia o quarto. A fileira de ação, suspense, drama e o terror na cama vazia no canto do quarto. Terços em pregos na parede, onde sua falecida mãe relutava em orações a suspeita de mais um perdido, mais um esquecido. Remédios e um copo d'água ao lado da cama, roupas em cadeiras, fotos amareladas, algumas datadas, outras de tempos que nunca chegaria a recordar (não ousaria), amareladas e borradas, dando contraste a uma tristeza absoluta, quase palpável. E fora dali existiam os outros, os desfocados, contracenando uma nova cena no inferno, desafiando a sorte em abraços às cegas. E então existia Pedro, quieto como um fantasma, como um santo, na mesma velha mesa, na entrada da velha casa, retocando o passado... Esperando, esperando, esperando, esperando, esperando.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Canto você para mim.

Ondas suaves batem seu corpo semimorto. "Só mais um pouco de atenção", ela se queixa. Talvez a tentativa a traga de volta e tenha a sorte de uma amnésia. Se não houver volta, que suavize as olheiras, o coração pesado, um rosto abatido, e dê um contraste significativo, em qualquer história de amor. No choro suave da saudade, pede que se faça um mundo menor. E você irá repetir o tempo todo, e não vai se cansar de tentar achar o quanto suave havia de ser, e só poderia ser você. Porque nosso lado é muito distante desse aqui de agora, mas ela sabia que era você o tempo todo.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Terremoto na Paraíba (piada que não sei a autoria)

Depois dos terremotos ocorridos na Ásia, o Governo Brasileiro resolveu instalar um sistema de medição e controle de abalos sísmicos, que cobre todo o país.
O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, já detectou que haveria um grande terremoto no nordeste do país. Assim, enviou um telegrama à delegacia de polícia de uma cidadezinha no interior do Estado da Paraíba Dizia a mensagem:

'Urgente. Possível movimento sísmico na zona, Muito perigoso. Richter 7. Epicentro a 3 Km da cidade. Tomem medidas e informem resultados com urgência'.

Somente uma semana depois o Centro Sísmico recebeu um telegrama que dizia:

'Aqui é da Polícia de Icó.Movimento sísmico totalmente desarticulado. Richter tentou se evadir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas. Todas as putas estão presas. Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos.
Não respondemos antes porque houve um terremoto da porra aqui!'

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Porque estou sempre de mãos atadas, como quando reacendo os bons tempos. Minha descrença não passa da porta. E isso é tudo que sou, e nunca é pouco. Porque estou sim, sempre de mãos atadas. E quando atravesso um dia inteiro desacordada, não sobra muitas vontades, mas sobra faltas. O essencial nunca está perto, e isso não é um segredo.